sábado, 12 de janeiro de 2008

Um sol de meio dia na cara, um real e pouco guardados no bolso, e uma vontade louca de tomar água. Na verdade, ela naquela idade, nao tinha mais muito o que fazer, senão caminhar pela rua e torcer pra chegar logo em casa. Sim, chegaria nervosa. E gritaria com os quatro cantos. Depois sentaria com agulha e linha, na frente da televisão, e faria alguma coisa pra Darlene. Era sua afilhada, muito, muito amada.
Por um momento jogou a linha de lado e estava decidida a ir ao banheiro. Passou como sempre passava pela foto do Arnaldo, mas dessa vez foi diferente. Talvez por que vinha de algum lugar, talvez do seu proprio coração, aquela musica que ela costumava lhe dedicar. Curiosamente o trecho em que ela se despedia definitivamente, deixando a certeza de tê-lo amado tanto quanto pôde. Voce já sabia Arnaldo ? Sabia que um dia eu passaria a sentir sua falta, mesmo depois de velha, e mesmo quando o corção ja está meio indiferente a esse tipo de coisa? Voce sabia que eu te amava, Arnaldo ?
Pensou que poderia ficar alí parada por mais uma semana, só olhando aquele rosto lindo, e se alimentando daquilo que sempre lhe pareceu um sorriso torto. E quem podia deixar de prever, não é mesmo Arnaldo ? Nada mais natural, não é mesmo?
À essas alturas, Darlene já invadia a casa com seu namorado, o tal do Gabriel. Olhar para aquele rapaz, fazia com que me lembrasse das coisas boas da vida. Lembrei do Arnaldo. Parei de olhar a foto, e voltei a sentar para costurar. Tentei imaginar um mundo repleto de Arnaldos. Seria lindo. Não seria necessária a existencia das leias, nem da ordem, nem da policia. Se a Terra fosse uma Arnaldolândia, seriamos todos felizes. Isso por que eu teria que viver com ele. Eu existo menos longe do Arnaldo. Queria vê-lo mais uma vez. Diria tudo o que sinto, e esperaria ele me olhar como quem nao me entendia, mas que no fundo, eu sei que entendia. Faria carinho por todo o seu corpo, como sempre fiz, e adorei olhar para ele e sentir todo aquele amor. E ele pouco expressou. Mas expressava. Com aqueles olhinhos brilhando. Com aquele precisar de mim.
Levantei rapidamente, voltei-me para Darlene, e perguntei ansiosamente:
- O que voce acha de termos outro cachorro. Outro tao amigo quanto o Arnaldo.
Ela sorriu, como se esperasse essa pergunta desde o dia, em que por motivos de urgencia, o Arnaldo foi-se embora pra fazenda, e nunca mais se acostumou com a vida num prédio.

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