terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Esse cheiro de moqueca que arrepia as pernas, vinha da casa de dona Bereta, e a essa altura, a vizinhança toda já sabia que algo havia de novo. Era casa de gente humilde, dendê e leite de côco so se misturavam em ocasiões bastante especiais. E naquele dia, Lêda, sua neta, estava juntando seu dendê, com o leite de côco de Beto. Era uma folia só. O povo todo cantando, o povo todo feliz, e até se esqueciam do motivo que os trazia alí. Era uma beijinho no noivo, um segredinho no ouvio da noiva e lá iam os visitantes, pro meio da gandaia.
Lá no canto, contando com quantos paus se fez aquela canôa, penava Dedéia. A coitada havia colocado o arroz no fogo, e agora parecia aguardar a festa acabar, pra começar a limpar tudo. Mas só parecia. Na bem da verdade, o que a menina queria mesmo, era juntar o dendê dela. Com a irmã se casando, tava fácil de virar piada. Daí a pouco começavam os comentários de que Dedéia não sabia fazer moqueca. Crendeuspadi !!! Quem quer uma merda de vida dessa ?
Viu de longe Vicente chegar. Mediu a criatura dos pés à cabeça, e achou que dava um caldo. Mas caldo do bom. Aquele muqe pulando dos braços, aquele cangote suado e cheiroso, chega faziam a respiração de Dedéia se atrapalhar.
Achou que ele era o homem. Na verdade, sempre achara. Mas nunca, nunquinha tinha feito nada com um homem. Nem beijo, que dirá pensar nele em cima dela, fazendo essas coisas que se contam por aí. So de pensar... balançava a cabeça como a tentar afastar uma má idéia. Sempre que pensava no Vicente fazendo essas coisas, sentia um calor sair de dentro dela. E se arrepiava, e se sentia mais do que era antes. Menino !!
Resolveu que dessa vez seria diferente, passou a mão pela barriga, como a esquentar o frio que havia dentro dela. Iria fazer o que nunca houvera feito: depois de quase 8 anos de observação, iria falar com ele. Mas não iria falar bobagem. Estava decidida a casar, e iria acabar por decidí-lo também. Arrastou a sandalia pra dentro do pé, olhou pra dentro de sí mesma, levantou a camisa até bem acima do umbigo, dobrou a saia até dar vontade de ver mais em cima, e foi quase correndo agarrar o braço do rapaz. Olhou-o por uns dois minutos e ouviu alguém, ou ela mesma gritando:
-Dedéia, vem tirar o arroz do forno Quenga !!!

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