sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Não se pôde ouvir nada além do cortante silêncio habitual. Vê-la ali sentada, abraçando os joelhos fez com que Edgard retomasse algumas sensações antigas. Ele bem sabia que ela não diria nada. Continuava, depois de tanto tempo, sem entender direito o que era aquilo. Não entendeu na época, não entendia agora, e começava a achar que não entenderia nunca. Joana tinha bagunçado as coisas na época, bagunçava agora, e começava a achar que não deixaria de bagunçar nunca.
Antes de tocar no seu cabelo, quis entender por que a amava tanto. Entendeu que não tocaria nunca se precisasse entender. Não conseguia. Entendia de história, de Geografia, mas não de Joana. Ela lhe parecia uma matéria distante. E ao falar de Joana, por vezes percebia que estava falando também de amor. Foi quando sentou-se ao seu lado.
Naquele momento, sentiu um vento frio passar no meio dos dois. Se sentiu um desconhecido, e dessa vez já não a conhecia. Não soube muito bem o que falar. Tentou disfarçar o nervosismo, tentou olhar nos olhos dela, mas no fim das contas, precisava se livrar daquele monte de palavras guardadas por tanto tempo em locais dos mais diversos, e que só agora seriam entregues para Joana, como dentro de um embrulho, fechada com laços como os que ela um dia usou no cabelo. Ela já não usava laços no cabelo. Talvez não usasse mais as palavras que um dia ele lhe disse e que já não sabia bem o por que. Mas, lhe daria essas novas palavras e as deixaria ao seu dispor. Não tinha certeza do que iria conseguir com isso, e no fundo achava que lhe restaria apenas mais silêncio, mas sentia-se obrigado a falar.
E como uma flor teimosa que desabrocha em pleno outono, as palavras foram saindo de sua boca e fugindo ao seu controle, como se aquele perfume que há tanto tempo o escapara, o deixasse anestesiado e tomasse para sí o destino de ambos. À medida em que falava sentia-se cada vez mais fora daquele lugar, de um lugar longe o suficiente para olhar sem ser visto. E de lá ficava olhando para os dois. Olhava para aquele casal em que um dia teimou em acreditar e agora, por vinte ou tritna minutos, precisava somente escutar.
Mais uma vez, não houve um casal. As palavras que desabrochavam de Edgard, permaneciam ali soltas rondando a cabeça e o coração de Joana que teimava em não aceitá-las. Edgard já era capaz de achar graça disso tudo. Talvez por que não tivesse o controle das coisas, ou talvez por que a amasse mais do que ela era capaz, não conseguia se incomodar com tudo aquilo.
Começou a chover dentro e fora de Edgard. Naquele altura ele já não esperava ouvir mais nada. Esperava apenas que a chuva viesse molhar os olhos de Joana pra que se misturasse com seu brilho natural e resultasse naquilo que sempre o impressionou. Não precisava do amor de Joana. Precisva só dos seus olhos. E de algum modo, naquele momento arrancou-os de dentro dela e decidiu levá-los consigo. Não pretendia mais que ela os mostrasse a cada dia, seriam de Egard, sem o seu consentimento.
A chuva foi parando e Edgard foi entendendo, sme Joana dizer nada, que o amor dos dois seria sempre assim. Um dia, ela lhe roubou o coração, ele lhe roubou as palavras. Um dia, ele lhe roubou um beijo, ela lhe roubou o sossego. Um dia, ela lhe roubou o sossego, ele lhe roubou os sentidos. Talvez um dia, pudessem os dois, juntar o coração, as palavras, os beijos, os sentidos, os amores, pra viverem em fim, sossegados.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

E começou assim:


" Para você ir sabendo,

Hoje, pela milésima vez, acordei sem querer acordar. Queria ficar alí com os olhos fechados, para talvez continuar mais um dos incontáveis sonhos que tenho com você. Você não sai do meu pensamento. Você não sai de mim. E não há banho que resolva. Não há filme que distraia. Não há amor que faça esquecer. No final das contas, eu ainda amo você. E fico me achando engraçado, quando procuro feito um bêbado, você em outras pessoas. Procurando aquele romance que é só meu e seu, em qualquer outro lugar, que não em você. E você segue fugindo, Amanda.
Você foge pra algum lugar, onde minhas mãos não chegam. Você foge como quem esperasse achar alguma coisa outra. Mas o que é que você quer, Amanda ? Uma vez você disse que me amava, lembra ? E agora, Amanda ? Ainda ama ? Uma vez tracei um plano( que talvez ainda ponha em prática). Pensei que nunca mais falaria do meu amor por você, até o dia da sua formatura. Nesse dia, iria invadir o salão e pedir você em casamento. Mas sabe do que mais ? Acho que você diria não. E eu aprendi a conviver com o seu não. Esses meus outros amores, são todos bons. Todos me fazem bem, mas no final das contas, eu ainda amo você. Nunca sonhei tanto tempo com uma pessoa só, Amanda. Desde o colegial. Eu achei que o tempo iria me fazer esquecer, mas passado tanto, eu ainda sei dizer que te amo. Quando você vai entender isso, Amanda ? Me faltam músculos ? Me sobra amor ? Não preciso mais lhe entender. Já aprendi a lhe amar apesar da distância.
Sabe, ontem eu escrevi uma música. Depois que ficou pronta, lí e achei que era sem sentido. Mas depois de um ou dois minutos, ví que falava sobre você. Isso, por que todos os meus sentidos apontam pra você, Amanda. E tudo meu que é sem sentido, também. Fiquei parado, pensando que talvez um dia os nossos sentidos sejam os mesmos. Talvez um dia, nós dois venhamos pelo mesmo sentido. E nesse dia, Amanda, eu vou sentir você com todos os meus sentidos. Nesse dia, Amanda, talvez, todo esse amor no qual eu ainda acredito, possa enfim fazer sentido.
Amanhã estou embarcando para Havana. Estou levando meia dúzia de roupas na bagagem e você. Em cinco anos eu volto. Aí, talvez já tenha dado tempo de você me amar o suficiente. Ou talvez você vá me ver no aeroporto. Ou talvez me telefone. E ainda agora, e depois de mais cinco anos, eu sei que no final das contas, eu ainda vou amar você."

Salvador, Por não se sabe quantas primaveras...