quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

E era coisa da boa. Enchia os olhos de quem visse. Dava vontade de rir sem nem saber por quê. E meus olhos ficaram parados, olhando aquilo, de modo que meu corpo, ainda que quisesse, não sairía do lugar. Juro que tentei. Mechi uma perna, a outra. Mas a força que aquilo tinha, era maior. Era tão forte que me sacou fora do corpo. Levou-me até uns poucos anos atrás.
Estranhamente o ano em que eu saí de casa. E foi na hora em que eu saí. Deu pra ouvir, e ver todos aqueles gritos, minha mãe me olhando com raiva, eu me enchendo daquilo tudo... A pior parte foi aquela em que eu levantei bufando de raiva, olhei para ela que já não era muito minha mãe, e berrei:
-Vou-me Embora.
Esperei que ela chorasse, que me pedisse pra ficar. Que dissese que as coisas seriam diferentes. Agora, no presente, não naquela época, acho graça disso. Acho graça, da certeza de que ela jamais faria isso. E não faria, pelo simples fato de que ela ser quem é.
Era tudo o que eu queria ouvir. Um timido "tem certeza?", já significaria uma mudança de idéia para mim. Eu não tinha noção de para onde estava indo. Eu não tinha noção do que estava fazendo. Mas era assim lá em casa. Eu e ela eramos absolutamente iguais nesse ponto. Nunca, nunquinha, dávamos o braço a torcer. Isso era coisa de gente frouxa. E eu arrumei as malas, fechei, e no fundo, ainda esperava que ela me pedisse para ficar. Estranhamente tive sede, quando ja estava pronto pra sair. Bebí a água, como sendo a última vez que faria aquilo. E seria, naquelas circunstancias. Passei pela mesa da cozinha me esbarrando, e peguei um pedaço de rapadura que caiu no chão.
Fui-me embora batendo a porta, e doido para olhar pra trás e vê-la olhando pela janela, já chorosa. Mas não o fiz. O que ela iria pensar ? Que eu havia me arrependido ? No fundo, sei que ela também não foi à janela. E se eu a visse, o que iria pensar ? Que havia se arrependido ? Não, éramos realmente mãe e filho.
Mais ou menos quando a porta se bateu, fui trazido novamente ao meu corpo. Rí, ao ver que a rapadura que agora me deixava besta, era mais ou menos a mesma daquela época. Tive vontade de levar um pedaço para ela, mas não só a rapadura ainda era a mesma...

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