quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Alí, naquela posição, com os braços apoiados no joelho, ele pôde ter a certeza: era impossível amá-la.Via as lágrimas caírem no chão, como quem olha para o mundo. E chorava mesmo. E com vontade.Foi só mais uma razão para se voltar para seu mundo interior, enquanto tivesse que estar naquele lugar. Mas que lugar.Talvez a sua indignação não fosse propriamente com o lugar, mas o que ele representava. Durante toda a sua vida, funcionara como uma prisão, se não o deixando fixamente alí, o impedindo de viver o que há de ser vivido. E estava decidido. Durante todo aquele tempo, havia amadurecido uma idéia que agora lhe parecia óbvia: ele não tinha que amá-la. Foi lavar o rosto e teve a impressão de ter ouvido a torneira estalar, tamanha a força com que a apertou. Estava mesmo nervoso. E ninguem, nem ele mesmo, se sentia capaz de lhe pedir calma. Qual o que ?! Durante todos esses anos, havia tido calma. Agora seria um pedaço de pau.Nao falaria nada. Nao sorriria, nem gritaria. Seria mesmo indiferente. Lavou o rosto sujo de lágriamas, e depois de secar se olhou no espelho como se prometesse nunca mais chorar daquela maneira.Era a primeira vez depois de tanto tempo, que sentia próxima a época de sair daquele lugar.E não voltaria. Ele agora sabia: nunca iria amá-la. E ele bem que se esforçou, mas pensando bem,no fundo sempre soube que seria impossível. Ela era tudo o que ele criticava, ela era tudo o que ele não queria. Pensou que talvez nao fosse preciso sair do lugar, para sair dela.Pois alí, naquela noite, em que se repetiam muitas coisas, uma coisa era nova. Naquele momento ele começava sua caminhada pra longe dela.Uma caminhada estática e pessoal, mas que se iniciava como a mais longa das viagens já feitas até então.

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