segunda-feira, 8 de março de 2010

Acorda cedo
Não tem café
Me dá um medo
Cadê você ?
Saiu correndo
Sem me beijar
A água fervendo !
Vai se atrasar
O telefone
Alguém atende
Ninguém repara
Alguém atende !
O toque pára
E o café ?

Calça o sapato
Sem nem olhar
Cadê as chaves ?
Vai se atrasar
Engrena o carro
Cadê a pasta ?
Derruba um jarro
Cadê a pasta ?
Encontra a pasta
Saiu correndo
Não vai dar tempo
Põe a primeira
Não vai dar tempo
Põe-se a correr
Praquê sinal ?
Praquê pedestre ?
Praquê farol ?

Xinga o cachorro
Solta a buzina
Encara a velha
Cospe a menina
Fura o sinal
Chega no horário
Senta depressa
Caiu a pasta
Tudo se espalha
Já nem respira
Já só trabalha
Só Trabalha
Trabalha
Trabalha
Trabalha

Volta pra casa
De mal humor
Pra que sinal ?
Pra que pedestre ?
Pra que farol?
Fura o Sinal
e a menina ?
e o cachorro ?
de novo
de novo
de novo

Chegou em casa
Já foi dormir
Água fervendo
Praquê café ?
Amanhã cedo
Já está de pé
Mas como pôde ?
Já foi deitar
Sem dar notícias
Sem me beijar
Me dá um medo
Cadê você ?

O telefone
Já nem ouviu
Nem ouviu as sirenes
Nem os poemas
Nem as juras de amor
Nem fomos ao cinema

E aqueles dez filhos
Deixados pra lá
Um noite dessas
Virão apagar a luz
Pra lhe ver dormir
Sem eles
Sem me beijar
Sem mim
Sem brilho
Sem nada
Com pressa
Com a pasta
Com a roupa do corpo
Sem brilho, nem nada.

Numa manhã dessas
De Agosto
-ou será Setembro ?-
O Amor, esse pontualíssimo
Pôr-do-sol
Virá lhe mostrar
Com quantos atrasos
Com quantos não-congressos
Com quantas não-buzinas
Com quantas não-correrias
Se faz uma canoa
Pra navegar( sem pressa)
Pelo a-mar da vida.