quinta-feira, 11 de março de 2010

Por não mais que dez minutos, tratou-se de uma palestra da filha do nosso Che. Depois disso, o que se ouviu - pra quem foi capaz de ouvir - foi uma linda demonstração de amor de uma cubana para com o seu povo. De arrepiar os braços. Sim, porque todos os outros pêlos, todos os outros centímetros da existência de quem esteve ali - e foi capaz- arrepiou-se com o que viria a seguir. No fim, não passava de um ser humano. Um ser humano apaixonado por todos os povos carentes de olhares.
Piscava os olhos lentamente como se estivesse dividida entre as histórias de dentro das pálpebras, e os corações atentos do lado de fora. Éramos todos "chicos", como ela diria. Todos crescendo com o calor que saía de suas palavras e das suas graças bem colocadas. Ela, filha do Che. Nossa esperança, filha dos dois. Naquela manhã, ninguém foi capaz de voltar pra casa sem sentir-se um pouco mais latino. E como nos houvera dito seu pai, estivemos todos essencialmente humanos.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Acorda cedo
Não tem café
Me dá um medo
Cadê você ?
Saiu correndo
Sem me beijar
A água fervendo !
Vai se atrasar
O telefone
Alguém atende
Ninguém repara
Alguém atende !
O toque pára
E o café ?

Calça o sapato
Sem nem olhar
Cadê as chaves ?
Vai se atrasar
Engrena o carro
Cadê a pasta ?
Derruba um jarro
Cadê a pasta ?
Encontra a pasta
Saiu correndo
Não vai dar tempo
Põe a primeira
Não vai dar tempo
Põe-se a correr
Praquê sinal ?
Praquê pedestre ?
Praquê farol ?

Xinga o cachorro
Solta a buzina
Encara a velha
Cospe a menina
Fura o sinal
Chega no horário
Senta depressa
Caiu a pasta
Tudo se espalha
Já nem respira
Já só trabalha
Só Trabalha
Trabalha
Trabalha
Trabalha

Volta pra casa
De mal humor
Pra que sinal ?
Pra que pedestre ?
Pra que farol?
Fura o Sinal
e a menina ?
e o cachorro ?
de novo
de novo
de novo

Chegou em casa
Já foi dormir
Água fervendo
Praquê café ?
Amanhã cedo
Já está de pé
Mas como pôde ?
Já foi deitar
Sem dar notícias
Sem me beijar
Me dá um medo
Cadê você ?

O telefone
Já nem ouviu
Nem ouviu as sirenes
Nem os poemas
Nem as juras de amor
Nem fomos ao cinema

E aqueles dez filhos
Deixados pra lá
Um noite dessas
Virão apagar a luz
Pra lhe ver dormir
Sem eles
Sem me beijar
Sem mim
Sem brilho
Sem nada
Com pressa
Com a pasta
Com a roupa do corpo
Sem brilho, nem nada.

Numa manhã dessas
De Agosto
-ou será Setembro ?-
O Amor, esse pontualíssimo
Pôr-do-sol
Virá lhe mostrar
Com quantos atrasos
Com quantos não-congressos
Com quantas não-buzinas
Com quantas não-correrias
Se faz uma canoa
Pra navegar( sem pressa)
Pelo a-mar da vida.