E certa vez, lembro-me, apoiados os dois braços no parapeito da janela, os olhos perdidos nos campos, suspirei: é verde demais, meu Deus. Houvesse corrido os olhos mais um tanto, para me deparar com aqueles cabelos que escapoliam às tranças da rede, teria entendido: são cores demais. São todas as cores, e mais. Nunca mais a vi deitada com tamanha tranquilidade, como não vi pássaros voarem tão perto, e flores brotarem tão flores.
Pensei, não muito, em pedir que ela se virasse. Um sorriso, quem sabe. Não o fiz, e sei que não deveria tê-lo feito, mil vezes tivesse a vontade. Silenciosamente eu soube que as coisas das mais lindas, das mais sinceras, devem ser fotografadas pelos olhos em segredo. E fiquei ali paralisado na minha janela, de onde eu só podia verde.